quinta-feira, 14 de outubro de 2010

DIRETRIZES ECOLÓGICAS PARA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - Por Fred Caju - Propostas ecologicas para os gestores públicos - O conceito da interdependência - Porque adotar a visão ecológica ? - Planejamento inteligente - Programa ecológico - Fritjof Capra - Leonardo Boff - Ignácio Ramonet - Arborização.




Diretrizes Ecológicas para a Administração Pública

 Com sugestões de caso

                                        por Fred Caju - colaborador dos Grupos e Blogs-Ambiente


  1. Conceito de interdependência (teia da vida)

Quando discutimos hoje o assunto ecologia, na verdade envolvemos outros setores da sociedade e as várias profissões existentes, fato que o físico e filósofo austríaco Fritjof Capra denomina de “Teia da vida” A. Capra vai ainda mais longe em seu conceito, colocando a relação entre tudo que fazemos no dia-a-dia com a ecologia e a interdependência entre todas essas coisas. Para ele, a interdependência é um dos princípios de organização que podem ser identificados como básicos para se construir diretrizes que formem comunidades humanas sustentáveis.

“O primeiro desses princípios é a interdependência. Todos os membros de uma comunidade ecológica estão interligados numa vasta e intrincada rede de relações, a teia da vida. Eles derivam suas propriedades essenciais, e, na verdade, sua própria existência, de suas relações com outras coisas. A interdependência – a dependência mútua de todos os processos vitais dos organismos – é a natureza de todas as relações ecológicas. O comportamento de cada membro vivo do ecossistema depende do comportamento de muitos outros. O sucesso da comunidade toda depende do sucesso de cada um de seus membros, enquanto que o sucesso de cada membro depende do sucesso da comunidade como um todo.” B

Com o “progresso”, surgiram também os grandes problemas da humanidade moderna e uma real necessidade de mudança de paradigma. E quando iniciamos essas mudanças, partindo de ações locais, vislumbramos uma possibilidade prática concreta, sem ilusões.

É neste sentido que entendemos o quanto é necessária a adoção desta linha de visão e trabalho, no intuito de fortalecer uma possível administração pública voltada para a participação popular, humanamente ecológica.

“No entanto, a diversidade só será uma vantagem estratégica se houver uma comunidade realmente vibrante, sustentada por uma teia de relações. Se a comunidade estiver fragmentada em grupos e em indivíduos isolados, a diversidade poderá, facilmente, tornar-se uma fonte de preconceitos e de atrito. Porém, se a comunidade estiver ciente da interdependência de todos os seus membros, a diversidade enriquecerá todas as relações e, desse modo, enriquecerá a comunidade como um todo, bem como cada um dos seus membros. Nessa comunidade, as informações e as idéias fluem livremente por toda a rede, e a diversidade de interpretações e de estilos de aprendizagem – até mesmo a diversidade de erros – enriquecerá toda a comunidade.” C




  1. Por que adotar a visão ecológica?

Adotando uma visão ecológica, abrimos a possibilidade de trabalhar os vários níveis de ecologia: a ambiental, a social, a mental e a integral ou profunda (aquela que discute nosso lugar na natureza e nossa inserção na complexa teia das energias cósmicas). Compartilha desta visão o grande teólogo, escritor, professor emérito de ética da UERJ e membro da Comissão da Carta da Terra, Leonardo Boff:

“Mais e mais se impõem entre os educadores ambientais esta perspectiva: educar para a arte de viver em harmonia com a natureza e propor-se repartir equitativamente aos demais seres, os recursos da cultura e do desenvolvimento sustentável. A partir de agora a educação deve impreterivelmente incluir as quatro tendências da ecologia. D

Outro teórico que sustenta esta proposta de Capra e Boff é Ignacio Ramonet, em seu livro Geopolítica do Caos. Nele, Ramonet diz que “devemos encontrar novas formas de pensamento” e faz um alerta, afirmando que “o limiar da era planetária, que estamos prestes a transpor, apresenta-se repleto de incógnitas, perigos e ameaças”. Ainda segundo Ramonet:

A era dos heróis terminou; sabe-se, agora, que tudo é solidário e, ao mesmo tempo, tudo é conflitante. Que a nova ordem deve englobar tudo e não excluir nada de seu campo de ação: a política, a economia, o social, o cultural e a ecologia.” E

  1. Planejamento inteligente

O primeiro passo para que qualquer atividade tenha o mínimo de organização é um bom planejamento. No caso específico da administração pública, esse planejamento deve ser ainda mais bem pensado e estruturado, tendo em vista que o tempo para execução do que se pretende é muito curto.

Quanto melhor soubermos arquitetar este planejamento para quatro anos de mandato, mais chances teremos de um envolvimento satisfatório com a comunidade. E do ponto de vista ecológico, é interessante pensar num planejamento sustentável, que procure integrar todas as pastas da administração municipal. Neste caso, tenho uma sugestão bem particular, que pode não ser a melhor, mas que pode servir de sustentação para outras idéias do grupo.

Penso que um bom planejamento administrativo começa a partir da escolha correta do secretariado, preferindo-se essencialmente profissionais da área ou pessoas com grande envolvimento comunitário, para ocupar as respectivas secretarias, e que demonstrem conhecimento técnico, ética profissional e relacionamento humanista. Neste caso, ainda sugiro a escolha (mesmo que nos bastidores da campanha eleitoral) deste corpo técnico já bem antes do período eleitoral, ganhando com isso tempo para o secretário organizar a estrutura de sua pasta e apresentar no mínimo dois projetos para sua área de atuação, estipulado um prazo de três meses a partir da apuração dos votos para a apresentação destes projetos.

Isto facilitaria o trabalho de interdependência entre as secretarias, evitando o atraso da aplicação prática de algum projeto por causa de possíveis empecilhos em outra pasta. A sugestão de antecipar a escolha dos nomes pode ser também uma ação preventiva devido à efervescência política do período eleitoral (tanto antes da eleição, quanto depois do resultado) que todos sabemos existir.

  1. Programa ecológico

Esta nova visão ecológica, claro, não poderia deixar de vir acompanhada de atitudes que visem proteger e melhorar o nosso ambiente natural. E eu, como ambientalista e idealizador desta proposta, não poderia deixar de adiantar alguns tópicos para a construção de um programa ecológico viável. Então, seguem abaixo algumas pequenas sugestões que já poderiam ter sido empregadas em....:

    1. – Revitalização URGENTE dos bairros periféricos

Nestes últimos anos, privilegiou-se a revitalização da área central da cidade com o cuidado extremo das praças centrais. Mas, em nenhum momento, pensou-se na revitalização de nossos bairros periféricos. Uma revitalização urgente destes bairros, em especial o recém-criado Cidade Ecológica, aplicando ações ecológicas de fato (implantação de energia solar, captação e reaproveitamento de águas pluviais, coleta seletiva e reciclagem de lixo, oficinas profissionalizantes, viveiro de mudas, mini-bibliotecas, centros de promoção e prevenção da saúde, incentivo às práticas esportivas etc.). Neste tópico, já notamos a importância da interdependência das secretarias municipais para atuar conjuntamente em prol de um projeto.

    1. Calçamento com paralelepípedos

Pode parecer um pensamento romântico, mas não é. Já foi comprovado cientificamente por engenheiros do Projeto.... que o calçamento com paralelepípedos é ambientalmente melhor, tanto para a infiltração das águas pluviais quanto para a amenização do clima nas cidades. Sem falar, é claro, do charme característico deste tipo de calçamento.


 Revitalização de fato do rio....

Aproveitando o projeto de tratamento do esgoto domiciliar iniciado pela...., iniciar a revitalização de fato do rio...., através da TOTAL recuperação de sua mata ciliar e cercamento de TODAS as nascentes do Município. Além da recuperação dos outros rios que fazem parte da geografia.....


Arborização urbana e rural

Um projeto preventivo, para evitar gastos futuros com a degradação de nossas estradas, é um grande programa de arborização rural, priorizando o plantio de mudas nativas do cerrado na beira das estradas vicinais, acompanhado de um trabalho de recuperação de terrenos, com construção de curvas de nível e “barraginhas” dentro das propriedades. Evitando-se dessa forma erosões e mantendo as boas condições das estradas facilitando a locomoção do homem do campo.


Coleta seletiva e reciclagem

Um projeto sério para coleta seletiva do lixo e manutenção de uma usina de reciclagem eficiente, reduzindo com isso o problema gerado pelo lixão municipal. O atual projeto empregado é insuficiente e ineficaz, porque não preocupa com a coleta e tratamento do lixo orgânico, responsável por cerca de 80% do lixo coletado e depositado nos lixões. Uma coleta seletiva eficiente e séria ajudaria muitas famílias a se sustentaram com o trabalho na usina de reciclagem e ainda produziria adubo orgânico de graça para nossas praças e jardins públicos.


 Referências :

ACapra, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos (The web of life: a new scientific understanding of living systems).

B Parágrafo quinto do epílogo Alfabetização ecológica, do livro A teia da vida.

C – Penúltimo parágrafo do epílogo Alfabetização ecológica, do livro A teia da vida.

D – Boff, Leonardo. Artigo Educação eco-centrada.

E – Ramonet, Ignacio. Geopolítica do caos.


Autor : Fred Caju

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