O meu prazer agora
O meu prazer, agora,
é enxugar o meu corpo
com uma toalha que eu mesmo lavei.
E enquanto enxugo, me contento em saber
que uma pequena parte de um tanquinho, ou de uma máquina de lavar,
não precisou ser construída.
O meu prazer, agora,
é continuar enxugando este corpo,
antes suado por seu trabalho físico que dispensou máquinas e energias.
E enquanto continuo a enxugar,
me alegro em pensar que pedacinhos de mineradoras, de siderúrgicas, de hidrelétricas, de caminhões, de estradas, de edifícios, de estruturas industriais e comerciais, além de tantas outras coisas necessárias para manter esta gigantesca máquina de produção,
não precisaram existir, pois eu mesmo gastei, de meu tempo, uma média de quatro minutos para lavar cada peça do meu vestuário. Com minhas próprias mãos, e minha própria energia, realizei aquilo que uma parafernália de invenções humanas poderia ter realizado. E para quê ?....
Para ganhar, talvez, três minutos por dia em relação a cada peça de vestuário. Somando-se outros tantos minutos ganhos com a utilização de outros tantos recursos tecnológicos---se eu não fizesse minhas próprias tarefas---, eu teria ganhado, no final do dia, algumas horas. E para quê ?....
Para descansar mais. Talvez fosse compensador. Mas não é isso o que se vê. Quanto mais as pessoas ganham tempo com a aquisição e a utilização de aparelhos automáticos, mais elas se vêem presas a dedicarem este tempo para manterem e aumentarem estas automações. Se, no final das contas, não é para descansar mais, então é para quê ?....
Seria para “curtir” as novidades da indústria ? Certamente, sim !! É interessante !!. É inato no ser humano o prazer pela novidade, pela admiração daquilo que podemos inventar e construir !!
Porém, vale a pena “curtir” este prazer inato, de uma forma excessiva, mudando de um prazer consumista a outro com um a velocidade espantosa ?....Às vezes se compra uma novidade de manhã que, à tarde, já está obsoleta, ou tornou-se enjoativa. Desta forma, onde vamos parar ?. Nem é necessário raciocínio e provas. Apenas o bom senso e a intuição podem nos confirmar que, para esta “gastança”, não há possibilidades do desenvolvimento harmonizar-se com as leis e os recursos naturais.
Porquê os homens da atualidade possuem esta “gana desmedida” de evolução científica e tecnológica, e perseguem um injustificável e inviável crescimento econômico ?....Será que o mundo “vai se acabar” daqui poucas décadas ? e, por isso, apoderam-se das pessoas forças inconscientes que as levam a usufruírem ao máximo, e em um curtíssimo espaço de tempo, todas as facilidades e prazeres que a inventividade e o empreendedorismo humano podem conferir?....Não !! Não é possível !! A não ser que elas cavem suas próprias sepulturas.
Temos tantas centenas de anos. E mais : milhares e milhares de anos para evoluirmos em todas as áreas de nossas potencialidades. Para quê, então, essa pressa sem termo, incauta e auto-destrutiva, de inovação e crescimento material.... ?
Os seres humanos estão agindo como viciados inveterados, que quanto mais se drogam, mais querem se drogar. Sim, qualquer prazer pode se transformar em um vício. A humanidade de hoje está, sem muito aperceber-se, à beira de sua nefasta ou, quem sabe, terminal “over dose”.
Parece tudo normal. Pessoas e classes criam filosofias que justificam seus padrões consumistas de vida. Contentam-se com “economias”, com “amenidades”, com “ações simbólicas”em favor do meio ambiente. Contentam-se em denunciarem abusos de outras pessoas, de outras regiões, de outros países, de outras classes, culpando, geralmente os governos e as empresas. Não que “não se deve fazer isso”, porém é pouco. É necessário vivenciar, pra valer, todos os princípios reclamados ou propalados.
Parece tudo normal. Um país disputa com outro um ponto a mais em seu crescimento econômico; empresas nacionais e transnacionais implementam estratégias para aumentarem o seu campo de atuação e os seus lucros. Todos querem ganhar mais. Indivíduos, famílias, grupos.... Todos querem crescer mais e ganhar mais em um curtíssimo espaço de tempo em relação à história da civilização e à vida, mesmo, de um ser humano. A disputa é ferrenha, e vê-se, nisso, normalidade. Tudo é aceitável, é elogiável. “Estamos vivenciando nossa liberdade e democracia”---assim se expressam, tranqüilos, considerando que estão fazendo a sua parte.
E, finalmente, com a apropriação de princípios e a adoção de soluções simbólicas, pincelam com cal a falsa aparência de suas “técnicas ecológicas e seus desenvolvimentos sustentáveis”. Enganam a si, sem o saberem.
Os que estão imersos neste turbilhão de crescimento descontrolado e impossível estão conscientes dos riscos que correm e das conseqüências negativas impostas a outros que são inocentes ?....Não. Estão querendo mais e mais por meramente querer mais. Estão com seus raciocínios turvados pela vontade irrefreável de concretizarem seus próprios desejos. Os homens que se embrenham nas invenções, nas conquistas e nos usufrutos materiais não estão conscientes que estas ações, neste momento da história da humanidade em especial, manifestam a sua incapacidade de compreensão. Eles não devem ser alvos de críticas e, sim, de compaixão, de carinhosa e, ao mesmo tempo, de firme orientação.
Luiz A. V. Spinola, Março/2008
Direitos Autorais Reservados. Permitida a reprodução somente em sites ou outros meios de comunicação sem fins lucrativos, pessoais ou corporativos, desde que o texto seja acompanhado destes adendos. Para sites que visam lucro, direta ou indiretamente, ou outros meios de comunicação, entrar em contato com o autor :
luizavspinola Arrouba gmail.com
UMA CAMPANHA DE ARRECADAÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES SERÁ IMPLEMENTADA PARA SUBSIDIAR A OFICIALIZAÇÃO DA “ASSOCIAÇÃO INFOERA DE LEITORES E ESCRITORES PARA UM MUNDO MELHOR” E PARA VIABILIZAR A CONCRETIZAÇÃO DE FUTUROS PROJETOS AMBIENTAIS, SOCIAIS E CULTURAIS.
Comentários e sugestões para melhorias são bem recebidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
COMENTE E PARTICIPE COM O SEU CONHECIMENTO !!
Participe também no grupo Ambiente Ecológico (digite estes termos no Google ou clique no link oferecido acima
Você também pode solicitar a publicação dos seus artigos enviando um email para : gruposambiente@gmail.com (não insira este email em listas)